No jogo de cabra-cega /o menino e a menina /inventaram nova regra/ (eles pensam ser novinha) / mas é muito, muito velha: / a perna corre e não foge; / o olho vendado enxerga./ E os dois, de namorinho, / brincam é de pega-pega.
Elza Beatriz , In “Coleção Novo Caminho”,
livro de alfabetização ,Ed.Scipione
Trabalha rápida a mente
numa resposta coerente ,
elegante
uma postura distante
que disfarce a perplexidade ,
oculte a verdade ,
de mim , dela , de todos ,
em toda parte .
(Pisca a mensagem
na minha frente
embaraçadora ,
surpreendente .)
(Que fazer do amor
suposto morto
que ressurge
perturbador e novo ,
neo-paixão ,
avassaladora ?
Como reabrir
a caixa de pandora ,
já fechada
a custa de sobre-humano esforço,
para conter o gesto insano ,
o engano ? )
Pudesse dizer , convicto :
meus impulsos são todos meus ,
tudo controlo em meu espírito ,
as pulsões , pura ilusão ;
o Id e a fantasia ,delírio .
Agarrar nas mãos o vento ,
mergulhar no vazio sem medo ,
não sentir aceso o incenso ,
tocar o próprio pensamento ,
recusar a umidade da água ,
ou a lágrima que vem com a tristeza
ter sobre a paixão alguma certeza ,
ser pura razão , nenhum sentimento .
(Ainda pisca , persistente ,
uma mensagem a minha frente ;
aqui , meio dormente ,
começo a digitar respostas , lentamente .)
Supomos sempre saber
para onde vai nosso navio
temos bússola , carta de navegação ,
radares , orientação ;
mas nada antecipa o maremoto ,
nada nos previne do furacão .
Mesmo a razão de um Titanic ,
sucumbe ao Iceberg da paixão .
Súbitas são as mudanças
no clima das relações humanas .
Meteorologista das emoções , atento ,
o poeta lê , nos astros dos olhos , o tormento ,
vê nas palavras , a velocidade do vento ,
sente o odor , no ar a sua volta , do desejo .
Assim mesmo ,
cercado de tanto cuidado e esmero ,
seu coração ,na proa do barco , vai estar ,
para que seja o primeiro a ver o mar .
É o coração , o melhor sensor da altura das ondas ,
das variações das marés , da profundidade das sondas ,
ele lê com clareza o relevo do fundo ,
e antecipa com precisão satisfatória , num segundo ,
a presença de obstáculos ocultos na escuridão ,
o perigo que ronda toda navegação .
Aqui parado neste imaginário tombadilho ,
vejo o mar de emoções a minha volta e reflito ,
na beleza da noite , da viagem e do perigo .
(Agora , as coisas se acalmam ,
minha sala torna-se novamente quieta ,
fecha-se minha pequena janela ,
apenas eu , meu texto[que é dela ],
o silêncio novamente se aquieta.)