domingo, 27 de fevereiro de 2011

CAÇADA

A minha vida inteira me espreita
nessa tela muda e loquaz .
Não há silêncio igual , ou paz .
O branco da tela me reflete .
Desapareceram idéias
tormentos .
Sem pensamentos ,
dedos soltos no teclado ,
exercito ,
lacanianamente ,
a arte de escrever sem rumo .
Existe em mim uma sombra :
será a lembrança da minha hesitação mais recente ?
Será que percebo algo externo a mim ?
Minha intuição não me esclarece .
Permaneço aqui ,
diante de mim mesmo ,
observando-me ,
aguardando para surpreender-me
num momento de descuido .
A idéia surgirá assim ,
logo que eu ,
distraído ,
me afastar do objetivo
de consegui-la .
A presa que mais corre de nós
é aquela perseguida .
Os pianos tem metrônomos ;
eu , tenho meu relógio ,
a minha direita ,
rítmico , enquanto busco ,
nesta muitas letras ,
uma imagem ,
um insight ,
uma marca ,
qualquer coisa ,
para expressar esta manhã de domingo quieta ,
entorpecida ,
esse escritório calmo ,
onde  a poesia não comparece
agora
por pudor ou vontade .




Existe uma discussão aqui :
eu ,
o que desejo ,
o que é ,
dialogamos .
Eterno triângulo.
Esperamos
todos
pela mais cobiçada das presas .

E longe daqui ,
distraída ,
a beleza ,
quase adormecida ,
repousa na grama fresca do mistério .

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