sábado, 19 de fevereiro de 2011

“TRAÇOS” DO SENTIMENTO


Não só recordamos
ao fazer poesia:
também predizemos.

Não só relatamos
com o verso,
a vida.
Certas vezes mesmo
criamos a própria vida.

Não somos só escritores,
poetas,
imaginação.
Somos,além disso,
magos
videntes
realizadores.

O poema não é apenas belo:é também forte.
O poema não é apenas rítmico:ele pulsa
como uma artéria,
ele sangra,às vêzes.

O poema é uma extensão de nossa alma.
Tem,portanto,espírito.
Do mesmo modo que o corpo
do poeta.

É, a maneira de um fetiche vudu,
encantado.
Se alguém rasga o papel
onde dorme a poesia,
fere,fisicamente,
o poeta,
esteja ele onde estiver.

Se o artista contemplar
tal sortilégio
se seus olhos inadvertidamente
testemunharem tal coisa
até a morte
é possível.

Como suportar
tanta humana pieguice
sem ser,
também
piegas?
Como viver essa “emocional tolice”
antes conhecida
pelo nome de sensibilidade
se não se pode dividir o que vai n’alma
com pessoa viva?
Já que a solidão é inevitável,
escrever é imprescindível!


                   Piranema,Hospital Rural  14.11.1987

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