sábado, 19 de fevereiro de 2011

BIBLIOTECA (A DO RIO)


Neste espaço agradável  e amado
que agora visito apenas em espírito
nesse local delicioso,apinhado de livros
que costumava chamar meu particular labirinto,
muitas das minhas idéias estão armazenadas,
guardadas em harmonia com as idéias de homens e
mulheres
os quais tornaram o planeta mais inteligente e belo.
Estão aqui também um par de chinelos
e duas fabulosas poltronas
onde minhas costas refestelam-se agradecidas
pelo conforto da ausência quase completa
de preocupações ortopédicas.
Foi neste local ,tão amado,
que sete dos meus anos se passaram
construindo castelos poéticos, literários,
consultando a opinião dos amigos e das amantes.
Ali degustei palavras e lembranças, 
levantei um pouco o véu de minha ignorância,
escrevi sobre ventos e bonanças.
Nesta biblioteca conheci lágrimas numerosas
chorei e rezei entre estas estantes poderosas
que, quais guardiães de minha privacidade cercavam-
me, solícitas.
Ali transformei meu íntimo, minha vida,
enquanto meus livros e meus textos tudo
testemunhavam, silenciosos.
Ali conheci momentos fabulosos
nos quais fui deus e, doutra feita, fui demônio.
Naquele lugar conversei com os jônios,
com os gregos, Platão e Gitirana.
Foi neste salão, apinhado de lembranças,
que construí outras lembranças que agora teimo em
rememorar.
Minha doce biblioteca, escritório,
lugar de prece, recolhimento, oratório,
onde tantas vezes mergulhei dentro de mim.
Solidão agradável, nunca temida,
mesmo nos instantes sem viço, sem vida,
onde o simples ato de existir parecia sem significado.
Mesmo aí, este lugar tão amado,
foi palco de minhas trasformações interiores
de meu retorno aos estados superiores
onde a tristeza e a depressão não tem lugar.
Construí minha felicidade aqui, devagar,
de pedaços de meu medo, minhas mágoas, meu ego,
destruí ilusões, fantasias, destrocei o eterno,
na minha eterna busca de uma vida comum.
Ali deixei de ser muitos, tornei-me um,
apenas um homem comum, nada mais.
Meus livros, papéis, meus jornais,
fazendo-me companhia, falantes e quietos,
ao mesmo tempo balbúrdia de palavras e silêncio,
bruzundanga do mundo à minha volta, aprisionada.
Minha velha biblioteca foi minha casa,
minha verdadeira casa todo esse tempo,
espaço de meditação, templo,
onde nesses anos, às vêzes com, às vêzes sem esperança,
ficamos,eu e Gitirana,
a conversar, conversar, e conversar.


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