Tem uma moça calada
parada,na minha frente.
Ela diz que me compreende.
Tem uma moça cansada,mas firme,
parada em frente a mim.
Ela diz que as coisas são assado,são assim.
Tem uma moça,tão quieta,tão boa,
sentada me olhando com olhos grandes;
decerto não deve ser à toa,
que alguém tão jovem
busca a aflição alheia,
que alguém se envolve
com tantos problemas.
Solucionar dilemas,
suponho,
não é só profissão.
(Estranho contraste este de querer
resgatar em muitos tristes,
o prazer,
especializando-se em trabalhar
tristeza e solidão.)
Cambiar fardos em pura leveza
ser-se através do outro
e negar-se,apenas um pouco,
para afirmar o alheio.
Que vida vai atrás destes olhos?
Que frustrações,tão ocultas?
(Menos pra outra moça,que a escuta)
Enorme teia traça o destino;
tece redes de pescador.
Somos todos peixes da rede
rede de vida,de amor.
Quem é essa moça aí parada
que alinhava minh’alma
e faz bainha de meu espírito?
Costureira mágica de essências
ou apenas artesã da conciliação do conflito?
Que vai por trás destes olhos
e destes tímpanos tão cansados?
Tantas fantasias pra tão pouca tosse
e tão insuficientes cigarros?
Essa moça que escuta
(e é escutada)
tão contida,
tão discreta,
quem é essa
menina
tão discreta,
tão feminil?
Nessa saleta dessa Tijuca,
desse Brasil,
a transformar gente
em pessoa
e dividir angústias.
Não deve ser à toa.
Queria te falar
como o poeta fala às musas
mas eu nem sei pra quem escrevo.
Esse poema é audacioso
como só os poemas são.
Tem muito pouco de cabeça
muito do coração,
tem também a incerteza
desse enigma delicado
parado,
aí na minha frente.
Poema diferente,
sem objeto determinado.
Canto a amiga proposta’
não a amiga que é;
versejo a mulher mostrada,
não à verdadeira mulher.
Tem uma moça sentada
bem aqui na minha frente.
Quem é essa moça,assim,tão quieta?
Quem é essa moça?Quem é?
É a moça da cadeira pequena,
de pele branca,de gestos tão educados,
tão discretos,tão reservados,
que me pergunto:
e os seus lamentos,
os seus ais?
Suas indignações,
seus insultos?
Será que cabem em 60 minutos
como eu tento fazer caber nos meus?
Tanta gente tão cansada,
e essa moça na cadeira,
impertubavelmente perturbada,
com tanta mágoa,
tanta besteira;
tão importantes besteiras
quanto pode ser
a “besteira” em si
de cada um.
Enquanto a moça na cadeira,
sem mostrar enfado algum
falando com lentidão,
a lembrar que estas “besteiras”
são coisas muito sérias
coisas da emoção.
Essa moça terapeuta
é como uma hermeneuta
da linguagem do sofrimento,
essa moça conselheira,
sentada aí,nessa cadeira,
a facilitar a manifestação
livre do sentimento,
essa moça que não invade,
que não quer persuadir,
mas persuade,
essa moça congruente,
que aceita,reconhece e esclarece
os sentimentos negativos do cliente
e se esforça pra criar
uma “relacion caliente”
é a moça da cadeira
tão quieta ou tão faladeira
quanto peça a situação.
É a minha amiga de segunda-feira
de quarta feira,de tantas feiras
que na verdade eu não sei mais
quanto tempo tem com certeza
que eu e a moça da cadeira
estamos estudando a felicidade
e exercitando este resgate
de mim mesmo assim,
lá no fundo de mim.
Que é essa moça aí parada,
que alinhava minh’alma
e faz bainha de meu espírito?
Será uma costureira mágica de essências?
Artesã de consciências?
Preciosa lapidadora de mentes?
É um mistério tão profundo e guardado,
que nem chega a ser importante,
afinal.
Por agora,basta eu e essa moça,tão fumante.
Neste caso,isto é o essencial.
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